segunda-feira, 17 de novembro de 2008

NÃO HÁ COSTA À VISTA

Na rosa - dos - ventos,
Com o Norte à toa,
Há rumos milhentos,
E todos são Lisboa!

Pobre nau nortenha,
Navegando à sorte,
Camafeu de lenha
Com sinais de morte!

Sem brilho de estrelas,
Perdido o sextante,
Sem leme nem velas,
Não tem comandante!

Não tem timoneiro,
Ninguém a mandar,
Nem mesmo o gajeiro
Tem mastro a trepar!

Não há costa à vista...
O Mostrengo espreita
Do mar centralista
Que a todos sujeita!

Puiblicado in "A Voz de Melgaço" de 1 de Setembro de 2008

sábado, 8 de novembro de 2008

A SEMENTE DE UMA DOR INCOERENTE

Da Fortuna - só vos digo ser volúvel.
Outro tanto vos direi deste meu Fado.
Do meu Futuro - mistério irresolúvel,
Somente sei, que algures será parado.

De Amor - não negarei que foi afável,
Na doce ventura de amar e ser amado.
Da Esperança - prudente e razoável,
Nunca quiz que o Bem fosse ofertado.

E mesmo assim há uma Dor incoerente,
Que perpassa lentamente pela mente,
Até se tornar nesta febril Inquietação.

Indaguei então aos Céus, humildemente,
Qual a origem dessa Dor, qual a semente?
- Disseram-me para perguntar à Solidão!

J.A.Gonçalves
Melgaço 8 de Novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

O FAUNO GALHOFEIRO

Um Fauno velho e arteiro
Surge naquilo que digo,
Rindo de mim galhofeiro
E de quanto sonho persigo!

Este flautista enchifrado,
Dos Romanos Deus antigo,
Anda na mente infiltrado
E escreve versos comigo!

Mas tenho para o combater
Um truque bem conseguido,
Limitando-me apenas a ser
Escrevinhador - presumido!

Tenho, também, prò enganar,
O meu coração sem sentido,
Que muito mais quer cantar
Quanto mais se sente ferido!

Publicado in "A Voz de Melgaço" de 1/11/2008

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

CARTÃO DE VISITA DO GOVERNO SOCRATES

O governo Socrates vai nacionalizar o BPN! - Para isso, já
conta com os aplausos, mais ou menos estrondosos, de to-
da a oposição (desde o PCP, até ao CDS, passando pelo PSD
e pelo Bloco).

O facto, face, inclusivé, à unanimidade, nem deveria mere-
cer grande relevo, não fora o caso de o governo ter mani-
festado sempre uma enorme tendência para efectuar pri-
vatizações, mais ou menos a esmo, de tudo quanto dá lu-
cro ao estado.

Um cartão de visita (e propaganda) poderia, muito bem, re-
zar assim:

SENHORES EMPRESÁRIOS E INVESTIDORES...
QUERIDOS AMIGOS!

Como sabem, nacionalizamos o que dá prejuízo ao
estado e privatizamos tudo que lhe der lucro.

Podem, pois, indubitavelmente, contar connosco!

O Governo

(segue um sarrabisco, como é costume, a fazer de assinatura)

Comentário final: Haja pachorra!

POEMA LEVE

Papel vazio
Em desafio
Pede poema;
(Estratagema
Para sonhar,
Quiçá matar
A minha dor).
Porém Amor,
Fero e cruel
Quer o papel
Ausente e frio,
Sem desvario
Do meu penar!

Assim escreve,
Poema leve,
Acinzentado,
Mal cinzelado
Por um buril
Louco e dúctil;
Que endurece
Se lhe parece
Haver ventura,
Nesta doçura
Doutra canção
Com uma ilusão
Para eu cantar!

sábado, 1 de novembro de 2008

SOCRATES, CAIXEIRO - VIAJANTE

Foi grotesco ver o nosso primeiro - ministro na qualidade de
caixeiro - viajante do chamado computador Magalhães. Mes-
mo eu, que nem sou muito dado a grandes pudores, corei de
vergonha perante a actuação do nosso, desditoso, governante.
Já alguém mais autorizado do que eu disse que o santo ho-
mem deveria pensar que estava a falar para índios do tempo
em que estes usam penas a adornar a cabeça e pintalgavam
as faces em sinal de guerra.
E não é que o ilustre representante comercial até tem jeito
para as vendas! Disse: (cito de memória) que o Magalhães se-
ria o produto com o nome mais ibérico possível! Esta sim, foi
uma tirada impagável, cujo brilho perdurará muito mais do
que a fama e os feitos do grande navegador que Castela aco-
lheu, após este nosso Portugal (dos pequeninos) o ter rejeita-
to. Porém, não sei se será por eu me sentir um bocadinho aga-
legado (moro a 250 m da Galiza), dei por mim a pensar (coisa
que por vezes faço) que o nome para ser ibérico e internacio-
nal deveria ser: MAGALHANES, ou em último caso, MAGA-
LHONES, pois, lembrei-me que os nossos vizinhos, alguns di-
zem "nuestros hermanos", utilizam muitas palavras a termi-
nar em "ones", como por exemplo "cojones"!
Enfim. Verdade, verdadinha, é que para aturar isto, bem é pre-
ciso ter em "su sítio" esses ditos cujos!
Da minha parte, sem rubor, confesso que estou a ficar, um pou-
co, impaciente!

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

FANTASMAS

Nas longas noites inquietas,
Fantasmas surgem do nada
E fazem orgias secretas
Na minha mente cansada!

Alguns tem formas incertas
E uma expressão apagada,
Outros parecem Profetas
De branca barba espetada!

Todos, afinal, são cometas
Em órbitas desordenada...
E são irmãos dos poetas
Da rima nunca encontrada!